A adolescência  é um momento de construção de identidade, de busca por pertencimento e de muitos conflitos internos. Nesse cenário intenso, alguns adolescentes encontram na auto-lesão uma forma de lidar com sentimentos que parecem insuportáveis.

Embora ainda seja um tabu em muitos espaços, falar sobre auto-lesão é urgente. Silenciar só aumenta o sofrimento de quem passa por isso.

O que é auto-lesão?

Auto-lesão, ou automutilação, é quando alguém causa intencionalmente dor ou dano ao próprio corpo como forma de lidar com emoções difíceis. Os métodos mais comuns incluem cortes na pele, queimaduras ou bater partes do corpo contra objetos duros. Importante: não é, necessariamente, uma tentativa de suicídio, embora mereça toda a atenção e cuidado possíveis.

Na maioria das vezes, o adolescente que se fere está tentando aliviar uma dor emocional que não sabe nomear, expressar ou suportar.

Por que isso acontece?

As causas podem ser variadas, mas alguns fatores costumam estar presentes:

  • Dificuldade de lidar com emoções intensas, como tristeza, raiva ou frustração;

  • Sentimento de vazio ou entorpecimento — a dor física, paradoxalmente, traz uma sensação de estar “vivo”;

  • Baixa autoestima e autocrítica excessiva;

  • Pressão social e bullying;

  • Histórico de abuso, trauma ou negligência emocional;

  • Necessidade de controle em meio ao caos interno ou externo.

Muitos adolescentes relatam que a auto-lesão funciona como um alívio momentâneo, mas depois vem a culpa, a vergonha, e o ciclo se repete.

Como identificar?

Nem sempre é fácil perceber. Muitos adolescentes escondem os sinais por medo, vergonha ou por acharem que não serão compreendidos. Mas alguns indícios podem chamar a atenção:

  • Uso constante de roupas compridas, mesmo em dias quentes;

  • Evitação de atividades como praia, piscina ou educação física;

  • Presença de cortes, arranhões ou hematomas frequentes, com explicações vagas;

  • Isolamento, mudanças de humor, crises de choro ou explosões de raiva;

  • Baixa autoestima ou falas autodepreciativas (“eu sou um lixo”, “ninguém se importa comigo”).

O que fazer?

1. Não julgar

A primeira reação de quem descobre pode ser de pânico, raiva ou incredulidade. Mas o adolescente precisa, antes de tudo, de acolhimento. Frases como “isso é só para chamar atenção” ou “você quer me enlouquecer?” apenas aumentam o abismo emocional.

2. Abrir espaço para o diálogo

Fale com calma, demonstre que você se importa. Pergunte como ele está, o que tem sentido, e o que precisa. Escute mais do que fale. E nunca use o medo ou a culpa como ferramentas de controle.

3. Buscar ajuda profissional

A auto-lesão é um sintoma de que algo mais profundo está acontecendo. Psicólogos especializados em adolescência podem ajudar o jovem a identificar o que sente, aprender formas saudáveis de lidar com as emoções e construir autoestima.

Em alguns casos, pode ser necessário o acompanhamento psiquiátrico, especialmente se houver comorbidades como depressão, ansiedade ou transtornos de personalidade.

4. Criar redes de apoio

A escola, os amigos e a família são fundamentais nesse processo. É importante que o adolescente saiba que não está sozinho.

O que o adolescente precisa saber:

Se você é adolescente e está se autoferindo, saiba que:

  • Você não está louco(a), fraco(a) ou “estranho(a)”. Você está tentando lidar com uma dor real, de uma forma que talvez tenha parecido a única possível.

  • Você merece cuidado, e não julgamento.

  • Existem formas mais saudáveis de enfrentar o que você sente. E isso pode ser aprendido com ajuda.

  • Falar é um ato de coragem. Procure alguém de confiança — um adulto, um amigo, um profissional.

 

A auto-lesão na adolescência é um grito silencioso de quem está tentando sobreviver a um sofrimento interno. Ao invés de julgar ou ignorar, precisamos olhar com empatia, escutar com atenção e oferecer caminhos de cuidado.

Se você é pai, mãe, professor ou profissional da saúde mental, lembre-se: entender é o primeiro passo para ajudar.

Lilian Guedes é psicóloga de adolescentes, gestalt terapeuta infanto juvenil, especializanda em psicoterapia infanto juvenil, atende presencial em Salvador e on line por todo o Brasil

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